A histórica operadora de turismo britânica Thomas Cook declarou falência, o que obrigou as autoridades a iniciar uma operação sem precedentes para repatriar 600 mil clientes em vários países.
A empresa, pioneira das viagens turísticas, com 178 anos, negociou intensamente durante todo o fim de semana em busca de uma injeção de capital de 200 milhões de libras (R$ 1,03 bilhão) para evitar o colapso. Mas as conversações fracassaram e a operadora encerrou as atividades.
O grupo, que administra hotéis, resorts e linhas aéreas para 19 milhões de pessoas por ano, estava abalado por uma dívida de US$ 2,1 bilhões (R$ 8,75 bilhões), tendo que vender três milhões de pacotes de férias por ano só para pagar os juros.
A Thomas Cook vinha registrando uma forte queda em seus negócios nos últimos anos como consequência da concorrência intensa dos sites de viagens e das dúvidas dos turistas a viajar ante as incertezas sobre o brexit, adiado duas vezes este ano.
A empresa também foi abalada pela tentativa de golpe na Turquia, um de seus principais destinos, e a onda de calor de 2018 em toda a Europa, que fez clientes evitarem viagens ao exterior.
Na madrugada desta segunda-feira (23), as autoridades do Reino Unido começaram a organizar o retorno de 150 mil turistas britânicos, na maior operação de repatriação do país em tempos de paz, duas vezes superior à organizada há dois anos, no momento da falência da companhia aérea Monarch.
O governo ativou um plano de emergência que recebeu o nome “Operação Matterhorn”, referência a uma campanha de bombardeios dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Quarenta aviões foram fretados e 1.000 voos foram previstos pela Autoridade Britânica de Aviação Civil (CAA).
Aeronaves começaram a decolar de Palma de Mallorca (Espanha). De 25 mil a 30 mil clientes do grupo estavam nesta segunda nas Ilhas Baleares, 15 mil no Chipre, 50 mil na Grécia.
Os outros países da União Europeia também deverão supervisionar o retorno de seus cidadãos, como cerca de 140 mil alemães, 10 mil belgas e o mesmo número de holandeses e franceses.
“Todos os passageiros atualmente no exterior pela Thomas Cook e que tinham reservas para retornar ao Reino Unido nas próximas duas semanas serão transportados para casa em uma data o mais perto possível de suas reservas quanto possível”, afirmou o governo britânico.
De acordo com a BBC, 14 mil britânicos devem ser repatriados até a noite de segunda-feira. O governo calcula o custo da operação em 100 milhões de libras (R$ 516 milhões).
A empresa confirmou que, somando todos os destinos e nacionalidades, tem atualmente quase 600 mil turistas de férias pelo mundo.
A companhia aérea alemã Condor, que pertence ao grupo Thomas Cook, anunciou que mantém seus voos, apesar da falência, e solicitou um empréstimo de emergência ao governo alemão.
“É um momento preocupante para os funcionários e os clientes da Thomas Cook. A maior repatriação em tempos de paz no Reino Unido”, tuitou o ministro britânico das Relações Exteriores, Dominic Raab.
“Apesar dos enormes esforços, as discussões não chegaram a um acordo entre os acionistas e aqueles que ofereciam um novo aporte de dinheiro”, anunciou a empresa no domingo à noite.
“A direção concluiu que não havia outra opção que dar os primeiros passos para iniciar o processo de liquidação com efeito imediato”, completou.
A operadora havia apresentado um plano reestruturação no qual o conglomerado chinês Fosun assumiria o controle de suas atividades, ao mesmo tempo que os credores (que incluem, entre outros, os bancos RBS, Barclays e Lloyds) assumiriam as atividades de sua companhia aérea.
Mas as 900 milhões de libras (R$ 4,16 bilhões) prometidas pelas partes não eram suficientes. A empresa necessitava de mais 200 milhões de libras para continuar com suas atividades.
Thomas Cook tem 22 mil funcionários em todo o mundo, 9.000 deles no Reino Unido. ( Luciano Reis & Bnews )