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Ação da Secom privilegiou clientes de Wajngarten e TVs religiosas

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) alterou a estratégia midiática adotada na campanha publicitária da reforma da Previdência – a mais cara que o Planalto fez no ano passado –, com a chegada de Wajngarten (foto ilustração) à pasta, privilegiando emissoras clientes de uma empresa do secretário e emissoras religiosas, próximas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Na primeira fase da campanha, veiculada de 20 de fevereiro a 21 de abril, foram gastos R$ 11,5 milhões. A maior parte foi para a Globo nacional, líder de audiência. Essa divisão, no entanto, foi alterada com a chegada de Wajngarten.
A partir de abril, já com o publicitário à frente da secretaria, a Secom excluiu a Globo nacional da lista de contratadas, mantendo apenas praças regionais da emissora, cujos anúncios são mais baratos. As informações são da Folha de S.Paulo.
De acordo com o jornal, essa alteração fez com que concorrentes da Globo de menor audiência ficassem com a maior parte do investimento publicitário, que foi de R$ 36,7 milhões na segunda fase.
Record e Band, clientes da empresa de Wajngarten, ficaram com R$ 6,5 milhões e R$ 1,1 milhão, enquanto o SBT, que era cliente do publicitário até o primeiro semestre do ano passado, conseguiu R$ 5,4 milhões.
Já a Globo, tratada como inimiga por Bolsonaro e pelo chefe da Secom, ficou com apenas R$ 2,6 milhões.
Apesar de receberem mais, SBT e Record tem menos audiência que a Globo, de acordo com a Kantar Ibope. Juntas, as duas emissoras somaram 15,1 pontos de média no ano passado, já a Globo registrou 15,6 pontos.
Edir Macedo, dono da Record, e Silvio Santos, dono do SBT, têm manifestado apoio ao presidente Bolsonaro. Os dois, inclusive, participaram do desfile de Sete de Setembro no ano passado, ao lado do militar.
Procurado pela reportagem da Folha, a secretaria não se manifestou.
As informações obtidas pelo jornal constam em documentos enviados pela agência de publicidade Artplan, responsável pela campanha da Previdência, ao Tribunal de Contas da União (TCU). A corte investia suposto favorecimento na divisão de verbas de publicidade da Presidência para TVs, com base em critérios políticos.
Além de excluir a Globo nacional, a gestão Wajngarten acrescentou 12 TVs religiosas na estratégia da campanha. A maior parte dessas emissoras é comandada por apoiadores de Bolsonaro.
Ao todo, essas TVs receberam R$ 1,8 milhão, com a justificativa de que “esses canais atingem públicos diferenciados, ampliando a cobertura e o alcance da mensagem de forma segmentada”.
A Rede Gênesis, da Igreja Sara Nossa Terra, recebeu R$ 176,3 mil. A emissora é comandada pelo ex-deputado Robson Rodovalho, que apoia o presidente desde a campanha, e abre cultos para discursos de Bolsonaro.
A TV Gospel, da Renascer em Cristo, conseguiu R$ 54 mil. Sonia e Estevam Hernandes, donos da emissora, são amigos de Bolsonaro e da primeira-dama, Michelle. Eles também são responsáveis pela Marcha para Jesus, evento que em 2019 teve pela primeira vez a presença de um presidente, Bolsonaro.
A RIT TV, da Igreja Internacional da Graça de Deus, recebeu a mesma quantia da TV Gospel. A emissora é comandada por R.R Soares, que fez campanha para Bolsonaro.
A emissora católica Canção Nova também recebeu verbas (R$ 146,9 mil). Ela foi fundada pelo monsenhor Jonas Abib, também alinhado com Bolsonaro.
A TV Boas Novas, do irmão do deputado Silas Câmara (Republicanos-AM), líder da bancada evangélica, recebu R$ 69,9 mil.
Já a Rede Super, da Igreja Batista da Lagoinha, conseguiu R$ 39,2 mil. A emissora é liderada pelo pastor Márcio Valadão e frequentada pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. (CF)