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Mulheres denunciam abusos de ex-grão mestre da Maçonaria na Bahia

O Ministério Público da Bahia investiga denúncias de abusos sexual e psicológico contra um líder espiritual, Jair Tércio Cunha Costa, um dos criadores de uma Fundação OCIDEMNTE (Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais), com sede em Salvador. A CNN teve acesso a conversas pelo WhatsApp em que mulheres relatam terem sido vítimas de abusos e perseguições cometidas por Costa.

Foto Reprodução

As denúncias chegaram à Ouvidoria das Mulheres, órgão do Conselho Nacional do Ministério Público e ao Projeto Justiceiras, iniciativa que reúne 3.500 voluntárias, entre psicólogas, advogadas e assistentes sociais e realiza o acolhimento de mulheres durante a pandemia do novo coronavírus, período em que foi registrado aumento no número de casos de violência doméstica.

Embora tenha começado a funcionar em junho, o canal de denúncias também recebe pedidos de ajuda de casos ocorridos muito antes da pandemia. É o caso de uma das denunciantes, de 33 anos, que relatou ter se aproximado de Jair Tércio aos 16 anos, por causa do então namorado. Ela declarou ter sofrido abusos durante cinco anos. Parte dos crimes teriam acontecidos na sede da fundação, em uma região pouco habitada, no bairro de Stella Maris, distante do centro de Salvador.

Como uma forma de encorajar outras mulheres vítimas de abusos, ela usa as redes sociais para desabafar. “Eu acho que a gente percebe desde o início que algo não está certo, mas nós fomos quebradas por dentro”.

MP-BA investiga

A história da denunciante, juntamente com outras treze, foi encaminhada ao Ministério Público da Bahia (MPBA). Uma das promotoras responsáveis pela investigação, Sara Gama, a primeira da Bahia especializada em violência contra a mulher, informou que o MP-BA deve ouvir novas vítimas na próxima semana.

Ela explica que serão investigado os crimes de estupro, importunação sexual e assedio por causa da hierarquia que o líder exercia perante as vítimas. “A princípio seriam esses três delitos, mas pode ser que surjam outros e pode ser que descarte algum até as investigações terminarem”, explicou. 

A equipe de reportagem da CNN esteve em diferentes endereços de Salvador supostamente ligados a Jair Tércio, mas não conseguiu encontrá-lo. Em um dos locais, em frente da sede da Fundação OCIDEMNTE, um dos integrantes da instituição chamou a Polícia Militar. Por meio de nota, a fundação disse que desconhece qualquer denúncia contra membros atuais ou anteriores e que Jair Tércio não possui mais vínculos com a instituição, mesmo sendo um de seus fundadores.

De acordo com a promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Gabriela Manssur, há evidências de práticas de crimes graves de abuso sexual. “A exemplo de outros [crimes] que nós tivemos nos últimos dois anos, que acabei recebendo denúncias de mulheres praticamente idênticas. Mesmo modus operandi, uns crimes cometidos em grande escala contra várias mulheres por várias vezes”, afirma.

Após analisar as denúncias encaminhadas ao MP-BA, a promotora Sara Gama também vê semelhança nos relatos das vítimas. “Elas acreditaram nele como um ser elevado espiritualmente, como alguém que tem uma projeção suficiente para lhes aconselhar, conduzir as suas vidas. Aquelas coisas que acontecem em todas as religiões, fundamentos, enfim. Não se trata de culpa da instituição. É culpa do homem, da pessoa”, disse Sara, ao acrescentar que Jair Tércio foi Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica da Bahia (Gleb) — da qual foi afastado cautelarmente.

Também por meio de nota, a Gleb disse que o “irmão” Jair Tércio Cunha Costa teve os direitos maçônicos suspensos e que abriu uma investigação interna para apurar o caso. A nota diz ainda que “a Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia não tem controle sobre os atos e procedimentos dos seus membros e que todos são orientados a seguir rigorosamente a lei” e que “vai contribuir no que for preciso para que a verdade seja demonstrada”. Embora a própria maçonaria baiana tenha se colocado à disposição da Justiça, a promotora Sara Gama disse que não há qualquer relação da instituição com os crimes investigados. 

Durante uma live, uma das vítimas afirma que foi sendo “apagada” enquanto frequentava as atividades lideradas por Jair Tércio. “Há uma reprogramação mental. Essa é uma característica desses sociopatas, né? Ele vai apagando e reprogramando você. [Eles te convencem a entender que] tudo o que está acontecendo na sua vida é porque você não se espiritualizou o suficiente. Eles dizem que são retiros religiosos, mas são viagens para que você seja reprogramado. Você vai ao limite da exaustão física. No exaurir do físico seu psicológico está totalmente vulnerável a qualquer tipo de ideia [imposta]. Então, é nesse momento que eles começam a dizer: eu vou te salvar de você mesma”.

Defesa nega acusações

Em nota, o advogado de defesa de Jair Tércio, Fabiano Pimentel, afirmou que “os fatos narrados não condizem com a conduta de seu cliente e o mesmo afirma jamais ter agido com violência em seus relacionamentos afetivos”.

“Apesar da sua trajetória no campo dos estudos da espiritualidade, nunca se intitulou como ser humano especial, tampouco tirou nenhum tipo de vantagem ou proveito desta posição. Os fatos serão esclarecidos durante o curso do processo”, diz, em nota. “A defesa reitera que o sr. Jair Tércio está à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos e que os fatos serão esclarecidos durante o curso do processo”, conclui.

Da Redação- Luciano Reis Notícias, com CNN.