Informação com precisão

Debate sobre volta às aulas avança na Bahia e especialistas veem cenário seguro

Após quase um ano com escolas fechadas devido à pandemia de coronavírus, o retorno dos estudantes às salas de aula começa a ser debatido na Bahia. Na segunda-feira (8), houve uma reunião na sede da União dos Municípios da Bahia (UPB), com presença do secretário estadual da Educação, Jerônimo Rodrigues, além de gestores, autoridades e técnicos das secretarias estaduais da Educação e da Saúde. Entre os pontos discutidos e aprovados por todas as partes, está a adoção do ensino híbrido, de acordo com a realidade de cada unidade.

Foto : Betto Jr / Secom

Também na segunda-feira, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), anunciou a prorrogação, por mais 15 dias, do decreto municipal que proíbe a realização de aulas presenciais. Em coletiva de imprensa, o chefe do Executivo municipal afirmou que a Prefeitura espera pelo aval do Ministério Público e da Defensoria Pública em relação aos protocolos sanitários, feitos em conjunto com o governo do estado, para a retomada. “Teremos uma reunião com o Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça, para validar esses protocolos. Até para não termos aqui na Bahia o que a gente está vendo em outros estados. Uma guerra de liminares, com umas autorizando e outras proibindo a retomada da educação. Estamos querendo fazer, de forma afinada, com o Poder Judiciário e com o Ministério Público, para evitar instabilidade no retorno”, disse.

A semana começou com protocolos de retomada de atividades presenciais nas escolas de outros estados. Em São Paulo, 85% das 5,3 mil escolas da rede estadual foram abertas na segunda-feira, seguindo as normas estabelecidas pelo plano regional, de acordo com a fase de flexibilização. Já no Rio de Janeiro, o retorno global às aulas nos colégios estaduais está previsto para 1º de março, no sistema híbrido.

Especialistas já veem segurança para retorno

Na avaliação de profissionais de saúde, o atual cenário da crise sanitária permite uma volta segura às atividades, desde que sejam respeitados os protocolos. Segundo a infectopediatra Anne Galastri, as recentes descobertas da comunidade científica indicam que crianças infectadas desenvolvem formas mais leves da Covid-19, além de transmitirem menos o coronavírus. “O modo como o vírus se liga à célula humana para causar infecção tem menos sucesso nas crianças, porque elas têm um menor número de um receptor que faz essa ligação, e porque o sistema imune da criança é favorável à não evolução para casos mais graves”, explicou ao Jornal da Metrópole, ressaltando que a tendência de agravamento do quadro é maior em crianças com doenças crônicas.

A infectopediatra defende que a retomada presencial passe a ser apresentada como uma “opção” para os pais, não como única possibilidade. Ela reforça que o ambiente escolar tem papel educativo também quanto aos protocolos sanitários: “Alguns pais que moram em locais onde as aulas foram  retomadas relatam que as crianças passaram a lembrá-los do uso de máscara e da higienização”.

Medo do impacto psicológico

Há, ainda, a preocupação com as consequências do isolamento no desenvolvimento cognitivo e social das crianças, como explica o psicólogo Alessandro Marimpietri. “A escola tem um papel muito central no desenvolvimento das crianças, não apenas pela convivência com pares, mas por uma série de experiências que são edificantes. O impacto é efetivamente muito significativo”, diz.

Para Marimpietri, os pais devem considerar os possíveis riscos sanitários, mas sem ignorar os efeitos psicológicos da falta de atividades escolares. “Agora que já temos conhecimento científico construído, é preciso que a gente pondere o problema que é a falta de escola na vida de crianças e adolescentes, sob pena de que as consequências sejam ainda mais densas se a gente postergar por muito tempo”, explica.

Escolas públicas têm dificuldades

Se, por um lado, as escolas particulares estão adaptadas aos novos protocolos, nas instituições públicas a situação é mais delicada. Um documento divulgado no final de janeiro pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reconhece que “a maioria das escolas, principalmente das redes públicas”, não está estruturada adequadamente para garantir segurança básica no retorno presencial dos alunos. A entidade considera “indispensável” a responsabilização das autoridades públicas, além da “urgência” de um planejamento para o retorno.

Em entrevista à Rádio Metrópole, na terça-feira (9), a promotora do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), Cíntia Guanaes, afirmou que o órgão está atento à questão desde o auge da pandemia. “Mais ou menos em julho, começamos a pedir às autoridades que criassem protocolos e investissem nas escolas da rede pública para que elas pudessem oferecer alguma segurança nesse retorno. Hoje, com mais informações com relação à pandemia, é preciso que a gente estabeleça como vai ser garantido esse direito à educação, sem que seja violado o direito à vida”, pontuou. Para a promotora, cabe ao governo fiscalizar o cumprimento dos protocolos, bem como fazer adaptações em imóveis que abrigam escolas.

Também em entrevista à Metrópole, na segunda-feira, a ex-ministra, especialista em educação e diretora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudia Costin, avaliou que a má administração logística do poder público é a principal responsável pelo prolongamento do período sem aulas. “Temos que ter um sentido de urgência na volta às aulas. Mas para fazer isso, durante esse tempo em que as escolas ficaram fechadas, tínhamos que ter feito pequenas obras nas escolas para garantir conexão com sistemas sanitários, maior higienização da escola, uma organização de protocolos sanitários e pedagógicos”, disse.

Na visão da diretora da FGV, o problema foi agravado pela troca de comando nas prefeituras após as eleições. “Alguns prefeitos relaxaram no processo, já que estava acabando a gestão deles, não fizeram, então quem chegou tem que botar a escola em ordem pra volta às aulas”, afirmou.

Da Redação/Luciano Reis Notícias, com Metro 1