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A Bahia desmata área equivalente a 737 campos de futebol por dia no estado e ocupa a 2ª posição no ranking nacional

O desmatamento desenfreado coloca o estado na segunda posição entre os que desmataram com maior velocidade no Brasil em 2023. Só no ano passado, 796,2 hectares de vegetação foram suprimidos diariamente na Bahia – área equivalente a 737 campos de futebol. O avanço de atividades extrativistas sobre a área conhecida como MATOPIBA, que engloba os estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, está por trás do aumento do desmatamento. A Bahia, que teve 290.606 hectares desmatados no ano passado, só fica atrás do Maranhão, com 331.225 hectares.

Oeste da Bahia lidera desmatamento no país Crédito: Marizilda Cruppe/Greenpeace

Os dados fazem parte do Relatório Anual do Desmatamento, divulgado pelo MapBiomas no último dia 28. Em relação a 2022, a área desmatada na Bahia cresceu 27%. O estado subiu duas posições no ranking nacional, chegando ao segundo lugar no ano passado. O estado tem a quinta maior dimensão territorial do país. O bioma Cerrado foi o mais afetado, representando 67% de toda a área desmatada na Bahia. Em seguida, aparece a Caatinga (32,2%) e a Mata Atlântica (1%).

“O MATOPIBA concentrou 47% de toda perda de vegetação nativa do país, com mais de 858 mil hectares desmatados. A área é maior do que a desmatada em toda a Amazônia no ano passado, que foi de 454 mil hectares. O MATOPIBA é a principal fronteira agrícola do país, mas é preciso conciliar a produção com a conservação do Cerrado”, analisa a gestora ambiental do MapBiomas Roberta Rocha. O bioma é formado por árvores de tronco grosso e tortuoso, gramíneas e arbustos.

A supressão da vegetação para dar lugar a pastos e monoculturas no interior do estado faz com que os municípios baianos liderem o ranking do desmatamento. Das dez cidades com as maiores áreas desmatadas entre 2019 e 2023, quatro são da Bahia: São Desidério, Jaborandi, Cocos e Barreiras. A primeira é, inclusive, a cidade que mais registrou desmatamentos no Brasil no ano passado.

Para Yuri Salmona, diretor-executivo do Instituto Cerrados, o bioma ainda carece de legislações ambientais. “O Cerrado é um bioma extremamente desprotegido. Enquanto na Amazônia a área protegida dentro de uma propriedade rural deve ser de 80%, no Cerrado, apenas 20% não pode ser desmatado”, analisa.

Enquanto a tendência no ano passado foi de redução de 62% no desmatamento na Amazônia, o Cerrado registrou aumento de 67%. “A vegetação nativa do Cerrado presta um serviço ecossistêmico que é do interesse de todo mundo. Ela ajuda a regular o clima, infiltra água no subsolo para que tenha água nos rios durante o período de seca e equilibra a fauna e flora”, explica Yuri Salmona.

A expansão da monocultura, especialmente de soja, no oeste baiano, se intensificou a partir da década de 1980, com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As tecnologias de adubação e PH do solo despertaram os olhos de médios e grandes produtores.

Os interesses são acompanhados de incentivos do estado. A Bahia, segundo o MapBiomas, é o estado com a maior proporção de área desmatada com autorizações federais ou estaduais (51,8%). Na esfera estadual, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) é responsável por autorizar a supressão de vegetação.

Em nota, o INEMA e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) informaram que “mantém os esforços no combate ao desmatamento na fiscalização do bioma com o objetivo de dirimir o combate irregular de forma setorizada”. Os órgãos ressaltaram que, no ano passado, o governo do estado instaurou o Pacto pelo Cerrado, programa que prevê a criação de condições para um modelo de desenvolvimento sustentável na região.

“Seguindo a metodologia do PPCerrado [Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Bioma Cerrado], constatou-se que a média de desmatamento no Cerrado da Bahia, entre 2001 e 2008, era de 1.488 km². Considerando a meta de redução de 40% do desmatamento até 2020, deveríamos perseguir um valor máximo de desmatamento anual de 893 km². Essa meta foi alcançada a partir de 2016 na Bahia, chegando ao mínimo de 598,17 km² em 2018”, pontuou o órgão. (Correio da Bahia)

Da Redação- Luciano Reis Notícias, via Bahia na Política